O sumo de fruta não é o mesmo que fruta (nem quando é caseiro)

Maria Fernandez

Maria Fernandez

Sabiam que, do ponto de vista nutricional, ingerir sumos não é sinónimo de comer frutas? Sabiam que existem pesquisas que incluem os sumos na categoria de “bebida açucarada”? Segundo um estudo publicado na revista Circulation, em 2015, toda a bebida que tenha pelo menos 50 quilocalorias para cada 230ml deve ser considerada “açucarada”. Assim, nessa categoria, além dos conhecidos refrigerantes, das bebidas conhecidas como “isotónicas”, das bebidas “energéticas” ou dos chás adoçados, também podemos incluir a maioria dos sumos, caseiros ou não.

Estudos científicos, como o publicado em 2013 por Muraki e colaboradores, na revista British Medical Journal, observam que um maior consumo de sumos de fruta estava associado a um maior risco de desenvolver diabetes tipo 2. Também existem dados que relacionam o consumo de sumos de fruta ao risco de cárie dental.

Isto porque os efeitos metabólicos da fruta não são iguais ou equiparáveis aos exercidos pelos sumos e porque “quilocaloria por quilocaloria, o sumo de fruta pode ser consumido de forma mais rápida que a fruta fresca”. Encontramos esta última frase num documento da Academia Norte-americana de Pediatria, que alerta para que o consumo excessivo de sumo aumenta o risco de ganho de peso, de forma pouco saudável — entre outros motivos, porque os sumos não estimulam a mastigação. Existem sérias suspeitas de que o consumo de sumos pode estar a contribuir para a atual epidemia de obesidade, algo que parece ocorrer tanto em adultos como em crianças.

O consumo de água, no lugar de bebidas açucaradas ou sumos está relacionado com um menor risco de obesidade, a longo prazo (Journal Pediatric Obesity, 2016). Existem programas focados em reduzir a obesidade infantil através da eliminação dos sumos de Fruta 100% (American Journal of Public Health). No caso das crianças, de facto, existem poucas dúvidas sobre a importância de limitar o seu consumo. 

No caso de bebés menores de um ano, o seu consumo está desaconselhado, assim como o do açúcar refinado, porque:

  • os açúcares presentes no sumo de fruta são considerados “açúcares livres” ou de rápida absorção porque não estão junto da fibra;
  • não permitimos que o bebé consuma os alimentos na sua forma mais natural e estabelecemos o hábito de que os frutos sejam consumidos dessa maneira.
  • ao oferecer a fruta em sumo, oferecemos mais quantidade dessa fruta, que não corresponde necessariamente a mais nutrientes, mas sim a mais açúcar e água.

Também é importante saber que a ESPGHAN, nas recomendações mais recentes, NÃO aconselha sumos de frutas em comparação com as frutas no seu estado NATURAL. Até ao momento, nenhum benefício foi descrito para sumos de frutas versus frutas em sua forma natural, juntamente com as suas fibras. Em algum momento  vão consumir? Provavelmente sim, mas não há pressa em oferecê-los numa idade tão precoce.

Em relação a nós, adultos, desde 2016 o portal MedlinePlus (um serviço da Biblioteca Nacional de Medicina dos EUA) alerta que os adultos podem engordar até cinco quilos por ano se tomarem dois copos de sumo de laranja por dia, mesmo mantendo estáveis a alimentação e as atividades físicas habituais.

Em resumo, devemos matar a sede com água, e não com sumo, e consumir frutas no seu estado natural, devendo ser esta uma recomendação importante para toda a família.

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